2. Tendências e desafios do envelhecimento da população
2.4 Aumento brusco da procura de assistência médica
2013, com um crescimento anual médio de 6,0%. O atendimento dos serviços de urgência perfez cerca de 15% do total, passando, no mesmo período, de 33 mil para 52 mil utilizadores, com um crescimento anual médio de 11,7%.
14. Utilizadores idosos dos serviços hospitalares
2009 2010 2011 2012 2013
2009-2012 Crescimento anual médio
(%) Total 232 800 252 100 284 000 280 300 301 100 6,7 Internados 10 300 9 200 9 400 10 800 11 200 2,1 Serviços operatórios 3 300 3 300 3 300 3 500 3 600 3,6 Serviços de urgência 33 200 35 000 40 300 45 800 51 700 11,7 Consultas externas 186 000 204 600 231 000 220 200 234 600 6,0
Fonte de informação: Estatísticas da Saúde
O quadro 15 apresenta as estimativas da procura de serviços para idosos, entre 2016 e 2036, com base na utilização per capita dos serviços de urgência, consultas externas e cuidados de saúde de rotina, em 2013.
15. Projecções da procura de serviços de cuidados de saúde para idosos e despesas do governo com cuidados de saúde
Ano
Serviços de urgência
(Nº)
Consultas externas
(Nº)
Cuidados de saúde de rotina
(Nº)
Despesas do governo com cuidados de saúde
(milhões de patacas) 2016 62 600 284 200 133 000 430 2021 91 700 416 200 194 800 630 2026 124 500 565 100 264 500 860 2031 152 200 690 300 323 100 1 050 2036 166 900 757 300 354 500 1 150
Em 2013 o governo da RAEM orçamentou as despesas com cuidados de saúde num total de 4,45 mil milhões de patacas. Em termos da percentagem de idosos (8,0%) na população total, a despesa total de saúde envolvendo idosos foi estimada em cerca de 360 milhões de patacas. Com o aumento do número de idosos, sem considerar a inflação e com base no nível das despesas de 2013, estima-se que em 2036 as despesas
do governo com cuidados de saúde atinjam 1,15 mil milhões de patacas, nas estimativas mais conservadoras. Há ainda que ter em conta que a terceira idade é a faixa etária que mais necessita de cuidados de saúde, ao nível da prevenção, recuperação e cuidados permanentes, entre outros. As despesas do governo da RAEM neste âmbito crescerão significativamente, em virtude do aumento de idosos e da tendência da longevidade.
Para ir ao encontro do envelhecimento e do concomitante aumento de equipamentos e instalações de saúde, é necessário, em termos de hardware, atribuir terrenos e disponibilizar mais verbas e recursos para acelerar a aquisição e a construção. Em termos de software, é necessário recrutar e formar profissionais de saúde.
Actualmente o governo da RAEM dedica-se a elevar o nível do atendimento e dos serviços do sistema de saúde público. Prevê-se que entre 2014 e 2019 sejam sucessivamente concluídos os projectos em curso, nomeadamente, ampliação do edifício de especialidades médicas do Centro Hospitalar Conde de São Januário, reconstrução do Centro de Saúde da Barra e Manduco e expansão do âmbito dos respectivos serviços, construção dos centros de saúde da Ilha Verde, do Edifício do Lago da Taipa e de Seac Pai Van de Coloane, bem como o Complexo Hospitalar das Ilhas, que poderá disponibilizar 706 camas para internamento. Estas instalações aliviarão as futuras necessidades de cuidados de saúde para a terceira idade.
Por seu turno, são fornecidos serviços de saúde exclusivos para idosos. Em 2011 o hospital governamental começou a disponibilizar consultas externas de memória e de geriatria (medicina especializada na terceira idade). O hospital governamental e os centros de saúde lançaram o plano prioritário para idosos nas consultas externas, assim como estabeleceram especialmente para eles zonas exclusivas de saúde e de prestação de serviços. Estas são medidas específicas, que requerem o recrutamento e formação de mais profissionais de saúde.
Quanto às previsões da procura de pessoal de saúde, em Novembro de 2013 o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior divulgou o Relatório da Situação da Procura Futura de Pessoal no Ramo de Enfermagem em Macau, referindo que os Serviços de Saúde apontaram que o indicador da mão-de-obra de enfermagem de Macau deverá ser aumentado para o nível de 4 enfermeiros por 1 000 habitantes (a percentagem de 2011 era de 2,9 enfermeiros por 1 000 habitantes). Se este objectivo for atingido em 2036 e tomando como referência as projecções da população, serão necessários 2 400
enfermeiros, mais 66,9% do que em 2011.
Quanto à proporção dos médicos na população, pode-se verificar o exemplo de Hong Kong, que toma como referência para as políticas de saúde os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Para atingir o objectivo equivalente ao nível dos 34 países membros da OCDE, de 3,2 médicos por 1 000 habitantes (em 2011 havia 2,6 médicos por 1 000 habitantes em Macau), estima-se que em 2036 sejam necessários cerca de mais 3 000 médicos, ou seja, um aumento de 86,8% em relação a 2011.
Gráfico 6 – Projecções das procuras de médicos e enfermeiros
2 400 2 200
2 100 1 900
1 600
3 000 2 200
2 500
2 800
1 900
1 000 1 500 2 000 2 500 3 000 3 500
2016 2021 2026 2031 2036
Ano pessoas
Médicos Enfermeiros
Médicos Enfermeiros
Os indicadores da mão-de-obra do sector da saúde acima referidos foram calculados tendo em conta a população global, porém, é de salientar que a saúde dos idosos se deteriora progressivamente com o avanço da idade. Geralmente um idoso doente é submetido a diferentes especialidades médicas, pelo que o fenómeno do envelhecimento da população implica necessariamente um aumento drástico de mão-de-obra na Saúde. Além dos médicos e enfermeiros que prestam serviços de diagnóstico e tratamento, o pessoal de enfermagem permanente para cuidar dos idosos também enfrenta pressões, devido ao prolongamento da vida, para idades cada vez mais avançadas.
Os idosos com deficiência são ainda outro grupo que também necessita de ser atendido. Segundo os resultados dos Censos 2011, existiam 5 411 idosos com deficiência, representando 13,5% do total dos idosos, o que é uma proporção consideravelmente superior à da população com deficiência na população total (2,0%).
Entre os idosos com deficiência, 50,3% (2 722 pessoas) tinham dificuldades em concretizar actividades diárias devido a doença crónica, necessitando constantemente do apoio de outrem, salientando-se que cerca de metade (49,9%) destes tinham entre 75 e 84 anos. Havia 1 464 idosos (27,1%) com deficiência motora, a maioria dos quais com dificuldades de locomoção (71,2%), ou incapacidade para cuidarem de si próprios (42,3%).
Além disso, segundo indicado num estudo internacional, os idosos com mais de 85 anos, emcomparativamente com os de 65 a 84 anos, são muito mais vulneráveis a doenças crónicas e têm maior probabilidade de serem hospitalizados Num outro estudo abrangente sobre a incidência de demência na China Continental, Hong Kong e Taiwan apresentam-se as seguintes percentagens (valores médios): 19% entre os 80 e os 84 anos e 32,1% em idade superior a 85 anos (dados de 2006), ou seja, existe a probabilidade de ocorrência de um caso de demência em cada três pessoas de idade avançada. Em Macau, segundo as projecções da população, haverá 43 500 idosos com mais de 80 anos em 2036, dos quais é provável que 10 000 venham a sofrer de demência.
Actualmente a maioria dos idosos moram com o cônjuge ou filhos, que cuidam deles no dia-a-dia. Todavia, tanto os agregados familiares, como os centros de cuidados especiais, como os lares de idosos (que fornecem alojamento) necessitam cada vez mais de pessoal para prestação de cuidados, devido ao crescimento do número de idosos, à tendência para atingirem uma idade avançada e ao falecimento do cônjuge: o luto atingia 15,0% dos idosos entre 65 e 74 anos, 36,8%, entre 75 e 84 anos e 57,5% com idade igual ou superior a 85 anos.
Alguns agregados familiares podem contratar empregados domésticos que pernoitam em casa para ajudarem a cuidar dos idosos. Com base nos dados dos Censos 2011, 2 732 dos agregados familiares idosos empregavam empregadas domésticas. Em Macau a maioria das empregadas domésticas era proveniente de países do Sudeste Asiático tais como as Filipinas, o Vietname e a Indonésia, as quais muito provavelmente não receberam formação para cuidar de idosos, problema a que se junta a barreira da língua e os diferentes hábitos de vida, pelo que estas trabalhadoras não são as mais adequadas para o acompanhamento dos idosos. De acordo com a intensificação destas necessidades sociais, em 2014 entraram pela primeira vez em Macau, empregadas domésticas provenientes do Interior da China, com o requisito expresso do apoio a idosos, sendo esta condição considerada como prioritária para a aprovação do contrato de importação de mão-de-obra. A mesma língua e etnia
facilitam a comunicação e a adaptação recíproca entre idosos e empregadas domésticas.
Com o intuito de satisfazer as necessidades crescentes dos serviços de geriatria, o governo da RAEM está a expandir activamente os lugares dos lares de idosos, prevendo-se que sejam acrescentados mais de mil lugares até 2017. Implementar-se-ão também diferentes tipos de serviços para idosos: os Serviços de Saúde e o IAS preparam a construção do Hospital de Reabilitação de Ká Hó e o Lar de Coloane para idosos; serão financiadas actividades das instituições associativas exercidas no exterior, tais como deslocações às moradias dos idosos e aos centros comunitários para prestação de cuidados de higiene, alimentação e enfermagem. Além disso, em 2014 aprovou-se a importação das primeiras 300 trabalhadoras domésticas provenientes do Interior da China (oriundas principalmente das Províncias de Guangdong e de Fujian), prevendo-se que este número seja aumentado, discriminadamente, para 1 500 após a concretização deste recrutamento. O governo e a comunidade civil implementam, em conjunto, medidas de serviços especializados de prestação de serviços, com o intuito de beneficiar o crescente número de idosos
Conclusão
Em 2011 o número de idosos de Macau atingiu cerca de 40 mil, mais 8 000 do que em 2001. Com base nas projecções da população, o número aumentará para 86 mil em 2021, representando 15,1% da população total, significando a passagem para uma sociedade envelhecida. Torna-se cada vez mais notória a tendência do envelhecimento da população.
O envelhecimento da população é um fenómeno mundial, já que a melhoria da nutrição e o desenvolvimento tecnológico permitem prolongar a vida humana. Desde há décadas que os países desenvolvidos da Europa e o Japão enfrentam este problema.
Nos últimos anos, os indivíduos nascidos durante o “baby-boom” no período pós-guerra (1946-1964) entraram gradualmente na idade de reforma, o que acelerou o ritmo global do aumento dos idosos. Várias teorias e explicações empíricas são apresentadas sobre o fenómeno do envelhecimento da população de Macau, algumas das quais podem ser tomadas como referência.
Em Macau o crescimento acelerado da economia nos últimos anos conduziu ao aumento das receitas públicas. Nesta altura, o governo da RAEM depara-se com uma situação financeira desafogada e existe uma relação de dependência ainda tolerável, fazendo sentido que seja incrementada a construção de instalações e de infra-estruturas públicas de saúde e de lares para idosos, assim como seja intensificada a formação de profissionais de saúde e de prestadores de cuidados. A implementação de mecanismos de longo prazo na segurança social é imprescindível para enfrentar o envelhecimento demográfico.
No que concerne aos recursos humanos, as actuais excelentes condições económicas podem influenciar positivamente a fertilidade e se forem combinadas com progressivos incentivos das respectivas políticas demográficas, crê-se que possa manter-se a tendência ascendente do número de nascimentos dos últimos anos, o que contribuirá para preencher a lacuna da mão-de-obra. Por outro lado, se for adiada a idade de aposentação e se um maior número de idosos forem encorajados a trabalhar a tempo parcial ou voluntariamente, tal permitirá que esta faixa da população transmita a sua experiência e capacidades, prolongando o seu contributo social e aliviando o encargo dos adultos em idade activa.
Os desafios do envelhecimento demográfico coexistem com as oportunidades.
Sobre o desenvolvimento da “Indústria Geriátrica” podemos aprender com o exemplo
e as experiências do Japão e dos países desenvolvidos ocidentais. O seguro de saúde para idosos e a hipoteca reversa do sector privado; os lares privados para idosos e os explorados pelos sectores público e privado; o apoio domiciliário; o turismo de lazer para idosos; os serviços especiais de estética e cabeleireiro; os produtos tecnológicos de consumo, tais como telemóveis inteligentes com funções de ampliação e GPS;
enfim, são inesgotáveis as oportunidades desta indústria.
Sabendo-se à partida que o envelhecimento da população implica o crescimento das despesas do governo da RAEM no âmbito do bem-estar social e do seguro de saúde, o alvo principal das Linhas de Acção Governativa destaca a construção gradual de um mecanismo sistematizado de protecção da terceira idade e, em 2014 planeia-se o enquadramento das políticas do regime de segurança social para idosos, assim como as bases do “Programa de Desenvolvimento do Serviço de Apoio a Idosos para os próximos 10 anos”, de 2016 a 2025.
Espera-se que o conteúdo do presente relatório possa ajudar os leitores a conhecer as características fundamentais da população idosa e as tendências do envelhecimento demográfico, através da disponibilização de referências sobre a definição das políticas do governo da RAEM, tal como por intermédio da discussão entre os diversos sectores da comunidade sobre o sistema de protecção da terceira idade em Macau.
Nota explicativa
Sinais convencionais e abreviaturas
- Valor absoluto igual a zero
~ Não foram fornecidos dados
# Dado confidencial
% Percentagem Nº Número
MF Masculino e feminino M Masculino
F Feminino
‡ Informação não disponível por ser elevado o erro de amostragem
Os totais podem não coincidir com a soma das parcelas, devido aos arredondamentos.
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